Além da vacina: para crescer, país terá de superar heranças da crise e desafios estruturais


As projeções dos especialistas para a economia brasileira em 2021 consideram um cenário em que a vacinação contra a Covid-19 começaria a proporcionar uma espécie de “volta à normalidade”, mesmo que em ritmo lento. Mas, mesmo que seja fundamental, a imunização, sozinha, não é suficiente para a retomada do crescimento: para evitar uma nova década perdida, o país tem outros entraves a superar.

Alguns deles estão relacionados à própria pandemia. O descontrole da contaminação pelo novo coronavírus em território nacional provocou, também, a desorganização de cadeias produtivas. E não basta reativar fábricas para que a produção volte, de fato, ao normal.

 

No final do ano passado, sondagens da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelaram as dificuldades na obtenção de insumos e matérias-primas. Na edição mais recente do levantamento, divulgada em novembro de 2020, 75% das empresas da indústria geral e 73% das que são da área da construção disseram estar com dificuldades para obter matérias-primas ou insumos domésticos.

 

No caso da construção – setor que se manteve aquecido mesmo durante a crise –, empresas chegaram a se organizar para importar matéria-prima, de modo a garantir o cumprimento dos cronogramas das obras.

 

Na mesma pesquisa da CNI, a maior parte dos industriais (47% da indústria de transformação e extrativa, e 45% da indústria da construção) disse esperar a normalização da oferta de insumos no primeiro trimestre de 2021. Parcela expressiva (32% no primeiro grupo e 35% no segundo), porém, afirmou esperar uma regularização no fornecimento somente no segundo trimestre deste ano.

 

Renato da Fonseca, gerente-executivo de Economia da CNI, explica que a desorganização das cadeias ocorreu pela forte queda da atividade registrada em março e abril. “A incerteza era muito grande e, por isso, foi implementada uma estratégia para evitar acumular estoque. Isso ocorreu de forma desorganizada. Alguns setores conseguiram retomar a produção rapidamente, mas outros, não”, detalha.

 

O caso mais emblemático é o da indústria siderúrgica, em que houve o desligamento de fornos. “Quando você desliga um forno desses, leva muito tempo para poder religá-lo. Não é igual ao forno de casa”, completa Fonseca.

 

Otto Nogami, economista e professor do Insper, aponta, ainda, para as pequenas e médias empresas que não sobreviveram aos meses mais agudos da crise. “Essas empresas estão na base da cadeia produtiva. Leva um tempo até você recuperar a condição de oferta que foi aniquilada com a quebradeira”, explica.

Setor automotivo espera normalização da cadeia

Um dos setores afetados pela falta de componentes foi o automotivo. No final do ano, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, chegou a afirmar que o setor poderia ficar parado por conta da falta de insumos.

 

Agora, de acordo com Moraes, a preocupação segue existindo, mas há a expectativa de normalização. "Esperamos que haja certa volatilidade no mercado, mas não tão grande como foi no final do ano. De qualquer forma, temos que ficar atentos por causa da segunda onda [da pandemia], que pode afetar os fornecedores de fora e também os locais", explicou.

 

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), as fábricas do setor automotivo operaram, em média, com 69,33% de sua capacidade instalada nos últimos quatro meses. A média antes da crise era de 83,54%. A indústria de transformação como um todo operou, em média, com 79,25% de sua capacidade instalada.

Fonte: Gazeta do povo

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